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Canal de Suez: navio é ‘quase’ desencalhado após 6 dias e perdas de bilhões de dólares

 

O enorme cargueiro que bloqueia há 6 dias o Canal de Suez, no Egito, voltou a flutuar parcialmente. O Ever Given, de 400 metros de comprimento, foi reposicionado e liberado da margem do canal de onde estava encalhado, segundo autoridades.

O curso do cargueiro que carrega 20 mil contêineres foi corrigido em 80%, afirmou a Autoridade do Canal de Suez. Agora, os esforços estão voltados para fazer o navio flutuar totalmente.

A popa do Ever Given está no momento a quase 100m da margem do canal, que tem 400 metros de largura.

A notícia da liberação parcial da embarcação ampliou o otimismo de que as operações sejam retomadas em breve no canal e levou a uma queda no preço do petróleo bruto, já que parte da distribuição global da commodity acabou afetada pelo encalhe.

A operação para liberar a embarcação durou 5 dias, e mobiliza retroescavadeiras e equipamentos de dragagem, um grupo de rebocadores e a retirada parcial do peso da embarcação para tentar facilitar o delicado trabalho de engenharia.

Havia risco de o navio desequilibrar ou se partir, por exemplo. Mergulhadores não detectaram abalos no casco.

No início da madrugada desta segunda-feira (29), o Ever Given começou a se movimentar à medida que a maré subia. Estima-se que essa operação avance mais com um novo pico de maré ao longo do dia.

O tráfego será retomado assim que o navio puder ser movido para uma área de espera, disse a autoridade. Ainda será preciso inspecionar a estabilidade do canal antes que o fluxo seja retomado.

Gráfico mostra que popa do navio foi afastada da margem do canal na qual estava presa

CRÉDITO,VESSELFINDER

 
Legenda da foto,

 

Popa do navio foi afastada, abrindo espaço de quase 100 metros na margem do canal de Suez

 

O Ever Given encalhou na manhã de terça-feira (23/3) em meio a ventos fortes e uma tempestade de areia que afetou sua visibilidade. Ele bloqueia uma das rotas comerciais mais movimentadas do mundo, forçando empresas a redirecionarem navios, o que causa longos congestionamentos.

Relatos de que o navio havia sido desencalhado aumentaram a esperança de que o tráfego ao longo do canal pudesse ser retomado em algumas horas, abrindo caminho para cerca de US$ 9,6 bilhões (quase R$ 55 bilhões) em mercadorias que estão sendo retidas a cada dia.

Empresas especializadas em comércio marítimo estimam que, no total, as perdas econômicas direta ou indiretamente ligadas ao encalhe passem de R$ 300 bilhões. Há quase 370 embarcações na fila à espera da liberação do canal.

Cerca de 12% do comércio global passa pelo Canal de Suez de 193 km (120 milhas), que conecta o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, criando um caminho mais curto entre a Ásia e a Europa.

Uma rota alternativa, ao redor do Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África, poderia custar duas semanas e centenas de milhares de reais a mais em combustível extra.

Atingido por guerra, canal ficou fechado por 8 anos

Apesar do duro impacto econômico que o incidente está causando, este não é o pior obstáculo a interromper o comércio pelo canal, que liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo.

Em junho de 1967, 15 navios que passavam pelo canal foram pegos no fogo cruzado da Guerra dos Seis Dias, entre Israel e o bloco formado por Egito, Síria e Jordânia.

No canto superior esquerdo é possível ver o cargueiro Ever Given encalhado. Na região à direita, dezenas de embarcações aguardam a retirada para conseguir atravessar

CRÉDITO,REUTERS

 
Legenda da foto,

 

No canto superior esquerdo é possível ver o cargueiro Ever Given encalhado. Na região à direita, dezenas de embarcações aguardam a retirada para conseguir atravessar

 

“Eles não queriam ser alvos, então ficaram lá”, diz Sal Mercogliano, especialista em história marítima da Universidade de Campbell, nos Estados Unidos, à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC).

No segundo dia do conflito, o Egito afundou navios nas extremidades do canal e plantou explosivos para bloquear a rota e impedir que Israel a cruzasse.

A guerra terminou em questão de dias, mas o canal ficou fechado por anos — um dos navios afundou e os outros 14 encalharam. Eles só foram retirados 8 anos depois.

Apenas dois dos 14 barcos que tinham ficado presos conseguiram sair por conta própria, o Münsterland e o Nordwind, da Alemanha. O resto teve de ser rebocado ou desmontado no local.

Matéria Disponível em:  BBC Brasil – <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-56562929>